A alma

Abro minha pasta de rascunhos e encontro um arquivo intitulado “A ALMA” (07/02/2021, 07:42). Clico sobre o ícone e o que encontro é apenas o citado título, sem nenhuma linha de texto, nenhuma imagem que, eventualmente, tenha me inspirado. Internamente me pergunto sobre o que, à época, eu pretendia escrever. Impossível que me recorde. Também não tenho dons teológicos, não me arriscaria a definir o que não enxergo. Um tipo de ateísmo paralelo impregna minhas veias. Seria algum poema, algum tipo de mito grego? Poderia, também, tratar-se de um conto caboclo, com uma vizinha tendo tal alcunha,vivendo algum acontecimento amoroso ou arrepiante. Porém percebo, enquanto escrevo estas atuais linha (às quais manterei o mesmo título abandonado), que tenho uma sensação de falta e de desejo que me persegue. Às vezes suspiro fundo e abandono o texto, penso na mulher que amei, nas que desejei amar, nas muitas que desejei por desejar. Penso nas opções insanas que escolhi e nos momentos raros de sensatez. De tudo que me preenche resta sempre o vazio, uns olhos de infinito que, tal qual um Perseu que se venda, decidi não mais encarar (por amor à mim e a ela…), e uma tristeza que, às vezes me afoga, noutras acalenta-me. Agora, sentindo que é hora de terminar, sinto os olhos marejados e não sei o motivo. Olho o sol que entra pela porta e clareia a parede e recordo, em um suspiro, da pele branca e quente em que um dia aqueci meus dedos e minha alma.

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